Já sabemos que Charles III é o novo rei da Grã-Bretanha, mas quem teria sido o dono do algarismo romano anterior, Charles II?

Uma pergunta que talvez não tenha tanta importância para muitos, mas que poderá oferecer uma resposta muito esclarecedora aos que buscam o lado "B" da história.

Charles II foi um dos maiores traficantes de escravos do hemisfério ocidental. Parte de sua fortuna veio da compra e venda de africanos escravizados. Também foi um dos fundadores da Royal Adventures into Africa (RAC), companhia criada em 1660 com o monopólio do tráfico de africanos na Inglaterra.
Charles II era sócio do cunhado, Duque de York, o conquistador de Manhattan, onde hoje está a cidade de Nova York. Para os curiosos, o bairro do Queens (“da rainha”, em inglês), em Nova York, foi assim batizado em homenagem à mulher de Charles II, a portuguesa Catarina de Bragança (parente da família real brasileira), responsável pela introdução do hábito de tomar chá e de consumir o famoso bolo muffin na Inglaterra.

O casamento entre Charles II e Catarina de Bragança foi parte do acordo pelo qual os ingleses garantiram a independência de Portugal, contra a Espanha, ao final da chamada União Ibérica, que durou entre 1580 e 1640. 
A aliança custou caro aos brios e aos cofres portugueses. O dote da princesa previa a transferência para a Grã-Bretanha de dois valiosos territórios ultramarinos: Bombaim, na Índia, e Tanger, no Marrocos. Incluía também o pagamento de dois milhões de cruzados, cerca de meio bilhão de dólares em dinheiro atual (treze toneladas de ouro).

Com os cofres exauridos pela guerra contra os holandeses e espanhóis, Portugal fez uma coleta pública de recursos, incluindo a doação de joias, pratarias e objetos de ouro das igrejas. Brasileiros foram chamados a contribuir com um terço dos impostos e taxas extraordinárias. 

Catarina, de 24 anos, partiu para a Inglaterra em 1662. Jamais conseguiu engravidar do marido, que, no entanto, teve cerca de quinze filhos bastardos com amantes. Retornou a Portugal após a morte de Charles, em 1685, e por duas vezes ocupou a regência do reino. Faleceu em 1705.

Fonte: Laurentino Gomes