Em Junho de 1889, após a posse do gabinete do Visconde de Ouro Preto, o Príncipe consorte do Brasil, Gastão de Orleans, o Conde d’Eu, saiu em expedição pelas províncias do antigo norte do Império, expedição que tinha como objetivo a legitimação da Monarquia Brasileira entre as elites regionais frente crescimento do Movimento Republicano. 

Tratava-se de uma longa viagem na qual iria percorrer as províncias litorâneas do vasto país, passando por todas as capitais entre o Amazonas e a Bahia.

O itinerário do esposo da herdeira do trono do país foi acompanhado com interesse tanto por monarquistas, como também pelas lideranças da propaganda republicana. Um exemplo disso é o fato de um dos maiores opositores do sistema, o jornalista Silva Jardim, ter acompanhado o príncipe nessa excursão no mesmo navio até a Capital de Pernambuco 

Durante suas visitas o Conde D’Eu declarou à Imprensa: “a monarquia não pretende resistir à opinião pública. Ao contrário, comprometia-se a se submeter ao pronunciamento dela, feita pelos meios populares”  Uma frase infeliz, que para alguns era tido como o tiro de misericórdia do regime imperial.
A viagem seria descrita no intuito de reinventar a imagem do genro de Dom Pedro II, ao enaltecer suas virtudes. Com isso, a viagem empre endida no fim de século, se reafirmava como uma excursão na qual o herdeiro do trono, conhecido por suas aventuras na Guerra do Paraguai, passava a conhecer a realidade plural e problemática do Império do Brasil. Era o preâmbulo de um governo vindouro.

O neto de Luís Felipe, rei deposto do trono francês em 1848, foi expulso de seu país e passou a juventude na Espanha. Ao casar-se com a Princesa Isabel, finalmente poderia cumprir com o seu destino de se tornar um monarca. Entretanto, essa não era uma tarefa simples, pois a monarquia brasileira oscilava na opinião pública dos políticos.

A Imprensa republicana acusava o Conde D’Eu de ser impopular, e que não receberia grandes homenagens da população ao visitar as províncias. Ao visitar o Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Grão Pará e o Amazonas, visitou algumas cidades ribeirinhas . O ânimo na recepção teve inúmeras oscilações, entre o entusiasmo e a ausência das camadas populares.

Em Penedo, Alagoas ocorreu uma festa imponente e com ampla participação das camadas populares. Um indício dessa participação do povo foi uma notícia timidamente publicada em "O Republicano" da cidade sergipana de Laranjeiras, na qual asseverava: "Em Penedo o sr. Conde D'Eu foi muito bem recebido". Um jornal de teor republicano, em plena campanha de oposição à monarquia expressar uma boa recepção ao herdeiro do trono, certamente implica em uma saudação de forte presença popular.

Foi recorrente em suas viagens, o uso especial dos moradores das cidade de solicitações e petições de graça, especialmente entre os prisioneiros. Todo o trajeto foi "acompanhado por grande massa de povo, que não cessava de saudá-lo e à Família Imperial"

Os últimos anos do império foram marcados por uma guerra entre os políticos e jornalistas contra a monarquia. Nessa guerra imagética, o alvo central era o nobre francês, expulso de seu país e que buscava se reerguer na corte dos trópicos. Gaston d'Orleans era um nobre nascido para ser rei, exilado de seu país natal e que ao casar-se com a herdeira do trono brasileiro poderia finalmente cumprir com seu desígnio de governar um império. Mas faltava-lhe carisma e a imprensa enxotava o povo a buscar qualquer aproximação.

Para a Imprensa da Corte, a viagem do Conde d'Eu é apresentada como um equívoco na política imperial, pois a figura mais antipática da nobre família saíra pelo país no intuito de promover a propaganda do regime e conquistar a simpatia popular.

A participação das camadas populares na recepção ao Conde d'Eu sempre é alvo de dúvidas, pois as fontes são extremamente engajadas na defesa da manutenção do prestígio do regime monárquico, ou, com forte teor de crítica ao mesmo. Entretanto, o silêncio dos jornais republicanos acerca da recepção no tocante à participação do povo elucida uma maior plausibilidade de realmente ter contado com uma expressiva presença das elites e das camadas populares nos festejos.

Fonte: Um Passeio em dias de tormenta: a viagem do Conde d’Eu às províncias do
antigo norte do Brasil.

Fotografias da Visita do Príncipe Gastão de Orléans, o Conde D'Eu, às Províncias do Grão Pará e do Amazonas em 1889. Coleção Pedro Corrêa do Lago.